EXIMUS encerra ciclo de atividades em Paris
Várias atividades do projeto EXIMUS marcaram este mês de Outubro.
No dia 5 de Outubro, na associação Memória viva, em Paris, decorreu uma tarde dedicada à música em filmes sobre a imigração portuguesa nas décadas de 1960 e 70 com Agnès Pellerin, Manuel Deniz Silva e Marie Christine Volovitch-Tavares. Além de Lorette et les autres (1972), filme importante para a construção da figura do “emigrante-militante”, no qual surgem canções de Luís Cília – então exilado político em Paris –, outros excertos de filmes, também centrados na questão da habitação (e na situação particular dos bidonville), permitiram mostrar como a presença plural da música nos filmes daquele período – do acordeão tocado pelos próprios moradores à canção lírica celebrando o regresso esperado à “pátria amada”, passando pela explicitação, por um fadista coimbrão, da “piada” da letra dos Vampiros de José Afonso – torna cada vez mais complexa a questão da “mensagem” destes filmes, muitas vezes militantes, deixando a sua receção aberta a várias interpretações.
O tema da música confirmou-se, então, como um veículo privilegiado da memória desta história plural, que passa também por documentários mais recentes que permitem dar a conhecer excertos de outros filmes não restaurados, em perigo de desaparecimento.
Arquivos da associação Memória viva (cartazes de solidariedade, capas de discos) foram expostos na ocasião desta conversa.


No dia 9 de Outubro, a conferência organizada no quadro das “Conversas na Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian – Delegação em França”, e dedicada ao exílio parisiense de Fernando Lopes-Graça nos anos 1930, colocou o musicólogo Manuel Deniz Silva em diálogo com a historiadora Cristina Clímaco. Entre outros pontos, foi analisada a importância da estadia em França do compositor no espoletar do seu interesse pelas músicas “regionais” de Portugal, assim como na posterior criação de um coro amador como ferramenta da luta pela democracia. A inscrição deste compositor em projetos artísticos cosmopolitas, então incentivados na capital francesa, e marcados por muitos outros exílios num momento de grande insegurança na Europa, deixou marcas profundas e duradouras no percurso de Lopes-Graça, já em Portugal, após a 2.ª Guerra Mundial. A contextualização da sua presença em Paris, num momento de mobilização importante dos portugueses em França, tanto a nível político como social, no seio de várias correntes e organizações, já a partir do início dos anos 1930, permitiu ressaltar a complementaridade entre o trabalho em arquivos parcelares e difíceis de localizar, relativos a um período muito menos conhecido que o do exílio mais tardio, ligado à guerra colonial.

Foto: Gulbenkian Paris.

Foto: Gulbenkian Paris.
A exposição Chansons de l’exil portugais à l’aube de la Révolution des oeillets continuou, até 31 de outubro, a acolher visitantes na Maison du Portugal – André de Gouveia. Através de contactos feitos com várias redes do ensino do português em França, oito visitas guiadas, lideradas pela investigadora do projeto, Agnès Pellerin, acolheram turmas de vários liceus de Paris e da sua região (Corbeil-Essonne, Limours, Pontault-Combault, Noisy-le-Grand), incluindo também uma escola básica de Saint Cloud: grupos entre 10 e 36 pessoas, incluindo professores e acompanhantes, que ao longo de uma hora se mostraram atentas aos excertos apresentados da “Liste de morceaux”, revelando interesse na dimensão internacional daquela história (e não só “franco-portuguesa”) e ainda sobre os diferentes papéis desempenhados pelas mulheres na produção e circulação destas canções. Alguns dos visitantes fizeram a ligação com a própria história familiar, enquanto outros quiseram saber mais sobre a censura ou sobre a relação dos cantores com o fado.
Vários professores aproveitaram para pedir, como exercício, uma pequena reportagem sobre a exposição. Em breve, o projeto EXIMUS destacará no seu site alguns exemplos destes usos pedagógicos.
