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Categoria
Investigador/a em Doutoramento
Código Ciência ID
7C10-BACE-7548
Dados

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas | Universidade Nova de Lisboa

Av. de Berna, n.º 26 C
1069-061 Lisboa
Portugal

Email: caiomourao@gmail.com

Grupo de Investigação

Caio Mourão

Nota Biográfica

Doutorando em etnomusicologia da Universidade NOVA de Lisboa a estudar o fado. Mestre em etnomusicologia pela Universidade de Brasília, onde estudou o empreendedorismo musical no mercado de Brasília relativo às escolas de música alternativas e às bandas de baile. Licenciado em Educação Musical pela Universidade de Brasília com especialização em guitarra elétrica. Professor do Centro de Ensino Profissionalizante Escola de Música de Brasília, onde atua nas áreas de música de câmara popular, guitarra elétrica, arranjo, produção musical, história e antropologia da música. É multi-instrumentista, arranjador, produtor musical e cultural e guitarrista especializado em ritmos brasileiros.

Projeto de Doutoramento

Título
“Andam guitarras a gemer de mão em mão”: o bizarrismo do fado a partir e além do Fado Bicha

Orientação
Andrew Snyder

Co-orientação
Sofia Aboim (Universidade de Lisboa)

Resumo
Neste estudo examino o fado, o maior representante de cultura musical portuguesa, a partir da obra do Fado Bicha, que tanto pode ser o nome dum grupo quanto uma proposta estilística. Integrante da chamada “música-queer” do país, o grupo definia-se como o primeiro representante do “fado-bicha” ou “fado-LGBT+”, que se diferenciava dos outros estilos de fado pela presença explícita de personagens não-hétero e não-cis nas letras das canções e nos vídeo-clipes. Por meio das performances artivistas da drag-queen Lila Fadista, que de forma paródica mesclavam música e discursos políticos, o grupo visava obter a validação e o acolhimento da fadistagem, ao mesmo tempo que tentava conquistar os grandes palcos portugueses e estrangeiros, regidos pela lógica da world-music mercantil. Entretanto, mantendo o seu deboche independente, fracassa, tanto com a comunidade fadista quanto com o mainstream, atribuindo essa invalidação ao preconceito por sua queerness. Contudo, ao invés de desistir, parece que essa rejeição potencializou o seu ímpeto por reconhecimento dado o crescendo, desde então, da sua gritaria. O que podemos aprender sobre as fronteiras do fado e da world-music a partir dum grupo artivista que reivindica a explicitude de gêneros e sexualidades marginalizadas dentro da híbrida linguagem musical do fado?

Apesar de tradicional, o fado auto-intitulava-se como “bizarro” em vários de seus poemas, que descreviam comportamentos transgressores da sua comunidade, desde a sua origem como “fado-batido”, dança afro-brasileira sensual e satírica. Sua transgressão aumentou quando foi utilizado tanto pelo Estado Novo português, quanto pelos opositores do Regime; tanto por cantoras que reproduziam o folclore nacional politicamente neutro e a objetificação feminina para adentrarem no mercado da world-music, quanto por fadistas que divulgavam suas paisagens ativistas e sexualidades dissidentes de forma independente. Enquanto tradição oral, o fado mantinha duros, mas impessoais, ritos de passagem, que desconsideravam, por exemplo, a sexualidade e a nacionalidade dos seus praticantes. Tamanha complexidade transgredia a palavra “queer”, proposta pelo Fado Bicha, para o entendimento do fado. Nascia (ou se revelava) o conceito de “bizarro”, que agregava aos marcadores queer de gênero identitário e sexualidade aspectos musicais, raciais, sócio-econômicos e de nacionalidade, de forma interseccional. A partir desse conceito foi-se possível demonstrar não só os motivos pelos quais o FB fora invalidado, que diziam respeito à falta de adequação aos ritos de passagem fadistas e aos modelos mercadológicos; como também esclarecer a razão por sua incessante busca por reconhecimento, qual seja, o cumprimento fatalista do seu destino drag, do seu fado, que impelia-o gritar aos quatro ventos ser o maior de todos os fracassados.

Palavras-chave: Bizarrismo, fado-batido, música-queer, fado-LGBT

Financiamento: Fundação para a Ciência e a Tecnologia (UI/BD/151216/2021)