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Capítulo

Músicas religiosas de «aparato» na corte portuguesa: o Te Deum nas cerimónias dinásticas da segunda metade do séc. XVIII

Projecto
Música, Artes do Espectáculo e Diplomacia no século XVIII: Redes portuguesas no cenário internacional
Grupos de Investigação

Cristina Fernandes, investigadora integrada do INET-md, é autora do capítulo “Músicas religiosas de «aparato» na corte portuguesa: o Te Deum nas cerimónias dinásticas da segunda metade do séc. XVIII”, incluído no livro Música en las cortes ibéricas (1700-1834): ceremonial, artes del espectáculo y representación del poder (2023, SEdeM) co-editado pela própria, como coordenadora do Grupo de Investigação de Estudos Históricos e Culturais em Música, em parceria com Judith Ortega, investigadora da Universidade Complutense de Madrid e colaboradora do mesmo grupo.

Resumo:

Originalmente associado ao Ofício de Matinas, o Te Deum foi ocupando ao longo dos séculos um lugar destacado na liturgia solene de acção de graças por ocasião de grandes acontecimentos sociais e políticos. Em Portugal, o costume de interpretar um grande Te Deum policoral «alla romana» no dia 31 de Dezembro, fomentado por D. João V a partir de 1718, perdurou até ao século XIX. No entanto, as tipologias do Te Deum eram muito mais variadas, correspondendo a diferentes contextos de execução. Por exemplo, para a aclamação da rainha D. Maria I (1777), David Perez compôs um Te Deum cuja instrumentação prescindia dos violinos e violas e incluía apenas sopros e cordas graves. Tratava-se do chamado modelo do «Te Deum de corte», também usado quando se anunciava um nascimento real. Entre as versões mais simples destinadas à liturgia regular (para coro concertato a 4 ou 8 vozes e baixo contínuo) e a exuberância das obras para o Dia de São Silvestre (para solistas, dois coros e duas orquestras), encontramos um considerável número de possibilidades, por vezes ditadas pelos locais de execução como no caso Te Deum para dois tenores e três baixos solistas, coro de vozes graves e cinco órgãos, que Marcos Portugal escreveu para o baptizado da infanta D. Ana de Jesus, realizado na Real Basílica de Mafra em 1807. Nas ocasiões mais importantes, a música era acompanhada por um grande aparato cenográfico, envolvendo arquitecturas e decorações efémeras, e detalhadas normas cerimoniais. Ao longo do tempo, diferentes gerações de compositores foram reinventando este género ligado a códigos funcionais específicos e adaptaram o seu conteúdo musical a novas tendências estéticas. Este artigo procura sistematizar os diferentes modelos de Te Deum usados em Portugal entre 1750 e 1807 (correspondente aos reinados de D. José e D. Maria I e à regência do futuro D. João VI) e o seu enquadramento cerimonial, dando particular destaque às obras interpretadas em eventos dinásticos (como nascimentos, baptizados, casamentos, aclamações e outras celebrações que envolviam a monarquia) e às suas particularidades específicas na representação sonora do poder real.