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Música, Colonialismo e Silenciamentos: o caso de um cordofone tradicional angolano

Jorge Castro Ribeiro, investigador do INET-md, e Lucas de Campos Ramos, investigador do INET-md em doutoramento no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, contribuíram para o livro Colonialismo – Entre a Psicanálise e a Arte (Editora Freud & Companhia, 2025) com o capítulo “Música, Colonialismo e Silenciamentos: o caso de um cordofone tradicional angolano”.

Resumo

Entre os instrumentos de corda africanos encontram-se diversos tipos de pluriarcos, disseminados por vários países da África Ocidental e referenciados em fontes históricas e contemporâneas. Estes instrumentos eram tradicionalmente utilizados para acompanhar o canto e desempenhavam um papel ativo na vida ritual e social das comunidades que os integravam. Em Angola, este tipo de cordofone foi documentado durante o período colonial, particularmente na província de Benguela (entre outras regiões), tendo, entretanto, caído em desuso. Em 2024, encontrava-se praticamente extinto, a par das práticas culturais e contextos performativos a que estava originalmente associado. As expedições científicas coloniais recolheram diversos exemplares, atualmente conservados em coleções antropológicas de museus em Portugal e em Angola. Contudo, nenhum desses instrumentos se encontra em condições de produzir som, o que inviabiliza o acesso às paisagens sonoras, usos performativos e universos simbólicos de que outrora fizeram parte. Este capítulo propõe uma análise dos contextos históricos e culturais deste instrumento, da sua presença nas instituições museológicas portuguesas e angolanas e da forma como as ideologias coloniais se refletem nos processos de recolha, classificação e exposição dos mesmos.