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SEMINÁRIO PERMANENTE EM ESTUDOS HISTÓRICOS E CULTURAIS EM MÚSICA
 
O Seminário Permanente do grupo de investigação Estudos Históricos e Culturais em Música do INET-md pretende ser um fórum onde todos os seus membros (integrados e colaboradores), bem como outros investigadores e investigadoras do meio académico, cultural e artístico, possam apresentar o seu trabalho e discutir projectos e investigações em curso.
 
 
15-11-2023 | 18:00 | Colégio Almada Negreiros, NOVA FCSH | Sala SA - Piso 0
 
Acesso livre, presencial e online:
 
Sala Zoom
ID da reunião: 952 9553 7288
Senha: 370868
 
 
 
 
ENTRE O ANTIGO E O MODERNO: TEORIA E PRÁTICA MUSICAL NOS SÉCULOS XVII E XVIII
 
 
 
O sistema mensural: a lenta desagregação (e renovação) de um quadro teórico em tratados da Península Ibérica dos séculos XVII e XVIII
 
Mariana Portas | INET-md
 
 
Com origem na baixa Idade Média, remontando aos primeiros esforços de codificação da música polifónica, ou canto mensural, que então florescia, o sistema mensural não só incorporou as inovações polifónicas como também contribuiu para elas, possibilitando o desenvolvimento da escrita musical. O que entendemos hoje por sistema mensural abrangeu quer a notação mensural (figuras e pausas) quer as mensurações propriamente ditas, que incluem os signos de mensuração e outros dispositivos de regulação do tempo, tais como a diminuição, a proporção, a coloração ou as regras de alteração do valor das figuras. Reformulado por teóricos como Jean de Murs (1340), Marchetto de Pádua (1325) e Tinctoris (1474), entre outros, o sistema mensural iria perdurar durante parte da Idade Moderna com uma notável estabilidade e continuidade. Ao longo dos séculos XVI a XVIII, a notação mensural das 8 figuras e pausas (da máxima à semicolcheia) seria reproduzida por muitos tratadistas europeus, incluindo os da Península Ibérica, sem alterações significativas. Contudo, uma parte das mensurações havia muito que deixara de corresponder a uma prática musical efectiva, embora continuassem a ser transmitidas nos tratados. Por outro lado, foram sendo acrescentadas novas proporções numéricas diante das mensurações binárias (tempos imperfeitos e partidos), cuja centralidade era evidente e cada vez mais assumida. A partir da segunda metade do século XVII alguns teóricos, sobretudo espanhóis, sem cessarem de resumir o sistema mensural, deixaram entrever uma quase completa inversão (ou subversão) da hierarquia tradicional das mensurações clássicas; algumas obras refletiram uma maior abertura às inovações e mensurações da prática musical corrente da época. Foi o caso de Andrés Llorente (El Porque de la Musica, 1672), Pablo Nassarre (Escuela Musica, 1724) e Francisco Solano (Novo Tratado, 1779). A partir de meados do século XVIII iriam emergir as novas concepções do ritmo e da acentuação métrica, generalizando-se a notação rítmica moderna, muito embora ambos os sistemas, antigo e moderno, convivessem e se sobrepusessem em diversas obras.
 
 
 



Mariana Portas de Freitas
| Doutoranda em Ciências Musicais – Musicologia Histórica (NOVA FCSH), investigadora do INET-md e membro do Caravelas – Núcleo de Estudos da História da Música Luso-Brasileira (CESEM, NOVA FCSH). Tem diploma de Estudos Avançados em Ciências Musicais Históricas e é mestre em Musicologia Histórica pela mesma faculdade. É licenciada em Direito pela Universidade Católica Portuguesa. É técnica superior da Fundação Calouste Gulbenkian, onde colabora em projectos nas áreas da difusão cultural e do património de influência portuguesa. Colaborou na edição de publicações musicológicas sob a direção de Rui Vieira Nery. Publicou: «Entre o hexacorde de Guido e o solfejo "francês"... (Revista Brasileira de Música, 2010); «A Escola de Canto de Orgaõ (1759) de Caetano de Melo de Jesus: um aparato teórico singular...» (in Lucas e Nery, As Músicas Luso-Brasileiras no Final do Antigo Regime..., 2012); «Polémicas musicais entre «Practicos» e letrados...» (Revista Brasileira de Música, V. 29-1, 2016).

 

 
 
"A melhor graça de dizer, e o occulto segredo de agradar": Evidências de prática performativa nos tratados de Solano e Pedroso
 
Pedro Castro | INET-md
 
Esta apresentação pretende abordar aplicações das referências de prática performativa que se encontram nos tratados de Manuel Morais Pedroso (Compendio musico, ou arte abbreviada em que se contém as regras mais necessarias da cantoria, acompanhamento e contraponto, 1751) e Francisco Inácio Solano (Nova instrucção musical, ou theorica pratica da musica rythmica, 1764), contextualizando com repertório escrito e realizado no meio musical local no século XVIII e também com tratados de referência no resto da Europa. O livro de Pedroso é um pequeno compendium de regras e instruções musicais conciso e generalista. Já Solano pretende expor na sua publicação o seu “novo methodo” de instrução musical especialmente direccionado para o “solfista”, ou seja para quem pretende aprender ou ensinar a ler música com as sílabas da solmização. O objectivo deste autor é o de aplicar esta técnica de leitura musical ao repertório “moderno” e para isso cria um sistema de atribuição das seis sílabas de Guido de Arezzo extremamente complexo, elabora e procura fundamentá-lo com bases teóricas de díficil compreensão. Mesmo não sendo o objectivo principal destes dois autores, compilando as diferentes referências de cada um espera-se demonstrar que eles revelam uma elevada sensibilidade interpretativa quase sempre coerente com os restantes tratados do género de outros centros musicais.
 
 
 


Pedro Castro | Doutorado em Música pela Universidade de Aveiro, mestre em Artes Musicais pela NOVA FCSH, e diplomado em flauta de bisel e oboé barroco pelo Conservatório Real de Haia. Lecciona na Escola Superior de Música de Lisboa e na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto. É primeiro oboé da Orquestra Barroca Casa da Música e director artístico do agrupamento Concerto Campestre. A sua actividade como instrumentista inclui ainda diversas orquestras e agrupamentos de música antiga nos principais centros artísticos europeus, tais como Ludovice Ensemble, Al Ayre Español, Les Talens Lyriques, Le Cercle d'Harmonie, Baltazar Neumann Ensemble, Divino Sospiro, Orquesta Barroca de Sevilla e Forma Antiqva. Em 2016 dirigiu e produziu a primeira gravação mundial da Serenata L'Angelica de João de Sousa Carvalho, editada pela Naxos. A sua investigação de doutoramento foi dedicada à Serenata durante o reinado de D. Maria I e os seus interesses de investigação incluem os usos políticos do mecenato real no campo da música dramática (especialmente através do estudo dos enredos, do conteúdo alegórico e das personagens retratadas nos libretos), bem como as práticas performativas da música dos séculos XVII e XVIII.