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23.11.2020
 
 
 
 
A tradição de Ovar conhecida como "Cantar os Reis" acaba de ser inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. A Universidade de Aveiro (UA), através de uma equipa do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Música e Dança (INET-md), coordenada por Jorge Castro Ribeiro, esteve envolvida neste processo desde o início.
 
Os "reiseiros", termo usado em Ovar para designar os participantes nesta tradição, estão de parabéns! Esta pática foi inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial – Matriz PCI, conforme publicação no Diário da República de 23 de novembro (228/2020, Série II)
A equipa da UA, através do INET-md, coordenada pelo investigador e professor do Departamento de Comunicação e Arte (DeCA), Jorge Castro Ribeiro, esteve envolvida neste processo desde o início, desenvolvendo a investigação no terreno e produzindo o estudo académico que esteve na base da classificação patrimonial da tradição de "Cantar os Reis em Ovar". O pedido de inscrição desta manifestação no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi promovido e patrocinado pela Câmara Municipal de Ovar e submetido em 2016. "A autarquia, desde o início do processo, em 2014, acarinhou e criou as condições necessárias para o seu desenvolvimento em estreito diálogo com os protagonistas da tradição e com os investigadores do INET-md", explica o coordenador da equipa. A equipa que desenvolveu o trabalho de campo, documentação e tratamento da informação incluiu o investigador Alexsander Jorge Duarte, Ana Luísa Bernardo Guimarães, Diva Couto, Jorge Miguel Gonçalves Graça e Isabel Ribeiro Castro.
 
A tradição das Troupes de Reis – nome pelo qual são designados os grupos que se dedicam a cantar os Reis em Ovar - remonta aos finais do século XIX. Apresentando alguma semelhança com outras tradições locais que têm lugar um pouco por todo o país – e também noutros países de tradição católica na Europa - a prática de Cantar os Reis em Ovar acontece anualmente no início de Janeiro e na festa dos Reis.
Sofisticação e qualidade interpretativa crescentes.
 
Apesar de ser feita por músicos maioritariamente amadores (os "reiseiros") e marcada por uma origem associativa ou comunitária, esta tradição tem vindo a desenvolver-se num sentido de numa maior autoexigência em termos de sofisticação e qualidade interpretativa, analisa Jorge Castro Ribeiro. Desta forma, continua, as exibições são minuciosa e antecipadamente ensaiadas, preparando-se um grupo coral, solistas vocais e acompanhamentos instrumentais que incluem, entre outros, o violão, o bandolim e o violino. A centralidade das vozes, a solo e em coro, no desempenho das toadas, em jeito de balada, é fundamental para a transmissão de um repertório de letras e melodias inéditas ou poemas novos sobre melodias adaptadas, que anualmente se renova.
O investigador refere que a estrutura do Cantar os Reis, é constituída tradicionalmente por três trechos, tal como referem os seus protagonistas: "a Saudação onde é louvada a Noite Santa dos Reis e são saudados os presentes; a Mensagem onde se celebra o nascimento de Jesus e os seus ensinamentos; e o Agradecimento, no qual são pedidas as ofertas habituais e é agradecida a hospitalidade".
 
A qualidade das Troupes de Reis vareiras desde há muito que cativou e impressionou o público, e o que representava inicialmente um simples ato de cantar as boas festas a favor de obras sociais cresceu e tornou-se num evento identificador da cidade de Ovar, afirma o professor da UA coordenador da recolha e estudo.
Assim, além das dezenas de casas particulares, associações, cafés e restaurantes, as Troupes passaram a apresentar-se em espaços comuns da cidade, com o apoio e organização da Câmara Municipal de Ovar, como as Praças, o Salão Nobre dos Paços do Município, o Cine-Teatro e no Centro de Arte de Ovar.