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24.06.2021 | online
 
 
 
 
Uma intenção. Um passo, um desequilíbrio, outro passo. Caminhar é um gesto de potência e de significado aberto. A caminhada pode ser entendida como um processo de interações entre o próprio e o mundo, uma sucessão de situações de experiências rítmicas com variação de intensidades, ritmos e pausas. Caminhante, Caminhar, Caminhada. Esta conferência tenta produzir uma reflexão sobre o acto de caminhar. A criança aprende a caminhar caindo. Caminhar é ajustar uma série altamente coordenada de pequenos movimentos cada um dos quais necessitando do seu próprio tempo e trajetória. A criança arrisca a queda, numa pulsão irresistível que a impele a colocar-se em pé e a avançar sem vertigem. Mas se caminhar é uma queda continuamente amparada, também é elevação e propulsão, um modo de lidar com a gravidade, o desejo de escapar à horizontalidade dos corpos, à inércia. Imprimimos o pé, do calcanhar aos dedos, prolongamos o movimento e propulsamos projetando-nos para a frente, evitando cair mais do que o novo passo. Caminhar em cidade é não só estar no passeio com um sentido processual, funcional, como um hábito; é não só ir do ponto A para o ponto B num comportamento rotineiro, mas é a possibilidade de percecionar e viver o urbano, alimentar uma relação crítica com o espaço. Fazendo-o, interagimos e refletimos com e sobre a cidade, em descoberta, afirmando o acto de caminhar como uma experiência estética, podendo inspirar respostas criativas e transformadoras dos espaços.
 
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