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Chapter

O repertório com fagotes e violoncelos obrigados nas Capelas Reais da corte portuguesa no limiar do séc. XIX

Institution
Research Groups

Diana Vinagre, integrated researcher at INET-md, authors the chapter “O repertório com fagotes e violoncelos obrigados nas Capelas Reais da corte portuguesa no limiar do séc. XIX”, included in the book  Música en las cortes ibéricas (1700-1834): ceremonial, artes del espectáculo y representación del poder (2023, SEdeM) co-edited by Cristina Fernandes, integrated researcher at INET-md and coordinator of the coordinator of the Research Group Historical and Cultural Studies in Music, with Judith Ortega, researcher at Universidad Complutense de Madrid, and collaborator of this same group.

Abstract (in Portuguese only):

Desde a elevação da Capela de Real de Lisboa ao estatuto de Patriarcal, em 1716, por acção de D. João V, o repertório para vozes com acompanhamento de baixo contínuo tornou-se dominante nas cerimónias litúrgicas da instituição, estando a utilização da orquestra reservada apenas a algumas festividades especiais e a datas comemorativas ligadas aos membros da família real. Esta tradição teve inicialmente por modelo a prática da Cappella Giulia e de outras capelas e basílicas papais e manteve-se depois do Terramoto de 1755 nas diferentes sedes da Patriarcal e na Capela Real do Paço da Ajuda. A partir de 1792, esta última passou a incorporar também a Patriarcal (tal como sucedia no tempo de D. João V), situação que se manteve até ao final do Antigo Regime, em 1834. Durante o último quartel do século XVIII, à medida que se dá um afastamento dos modelos de composição barrocos, os compositores da Patriarcal procuram soluções instrumentais para conciliar as contingências a que estavam obrigados com uma aproximação às novas tendências estéticas da linguagem musical. Neste contexto, surge um repertório de prática sistemática no qual são atribuídos novos papéis aos instrumentos do contínuo; estabelece-se uma formação modelo com dois violoncelos e dois fagotes obrigados, com partes solísticas, ficando o baixo a cargo do contrabaixo e do órgão. Apesar de ter sido alvo de diversas formas de tratamento por diferentes compositores, a emancipação dos violoncelos e dos fagotes é, em grande medida, uma tentativa de replicação da textura orquestral clássica. Esta
prática mantém-se até às primeiras décadas do século XIX, tendo sido também adoptada no Brasil por influência de Marcos Portugal aquando da sua ida para o Rio de Janeiro em 1811. Os manuscritos sobreviventes conhecidos encontram-se na Biblioteca da Ajuda, no Arquivo da Fábrica da Sé Patriarcal de Lisboa e na Biblioteca Nacional de Portugal, entre outros, tendo por principais compositores Marcos Portugal, António Leal Moreira, António Puzzi e António da Silva Gomes e Oliveira. Este artigo pretende contextualizar o aparecimento e a prática deste repertório, assim como abordar questões relativas à prática performativa do mesmo.