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Provas de Doutoramento

Provas de doutoramento: Caio Mourão

Data
12 Sep, 2025
2:30
12 Sep, 2025
6:00
Local
NOVA FCSH, Av. de Berna | Auditório B1, Torre B
Grupos de Investigação

A 12 de setembro, 2025, pelas 14h30, decorrem as provas de doutoramento em Ciências Musicais – Especialidade em Etnomusicologia do Mestre Caio Felipe Gonçalves Mourão, que defenderá a sua dissertação com o título “Andam guitarras a gemer de mão em mão”: o bizarrismo do fado a partir e além do Fado Bicha, com orientação de Andrew Snyder.

Júri das provas de doutoramento:

  • Prof. Doutor João Soeiro de Carvalho, Presidente do Júri (INET-md, NOVA FCSH)
  • Prof. Doutor Rui Vieira Nery (INET-md, NOVA FCSH)
  • Prof.ª Doutora Sofia Aboim (ICS, ULisboa)
  • Prof. Doutor Andrew Snyder, Orientador (INET-md, NOVA FCSH)
  • Prof. Doutor Hugo Ribeiro (Universidade de Brasília)
  • Prof. Doutor Daniel Silva (Rutgers University)

“Andam guitarras a gemer de mão em mão”: o bizarrismo do fado a partir e além do Fado Bicha

Neste estudo examino o fado, o maior representante da cultura musical portuguesa, a partir da obra do Fado Bicha, que tanto pode ser o nome dum grupo quanto uma proposta estilística. Integrante da chamada “música-queer” do país, o grupo definia-se como o primeiro representante do “fado-bicha” ou “fado-LGBT+”, que se diferenciava dos outros estilos de fado pela presença explícita de personagens não-hétero e não-cis nas letras das canções e nos vídeo-clipes. Por meio das performances artivistas da drag-queen Lila Fadista, que de forma paródica mesclavam música e discursos políticos, o grupo visava obter a validação e o acolhimento da fadistagem, ao mesmo tempo que tentava conquistar os grandes palcos portugueses e estrangeiros, regidos pela lógica da world-music mercantil. Entretanto, mantendo a sina drag, fracassa, tanto com a comunidade fadista quanto com o mainstream. Rejeitada, decide vingar-se com exuberância, matando o fado. O que podemos aprender sobre as fronteiras do fado e da world-music a partir dum grupo artivista que reivindica a explicitude de gêneros e sexualidades marginalizadas dentro da híbrida linguagem musical e comportamental do fado?

Apesar de visto como tradicional, o fado auto-intitulava-se como “bizarro” em vários de seus poemas, que descreviam comportamentos transgressores da sua comunidade, desde a sua origem como “fado-batido”, dança afro-brasileira sensual e satírica. Sua transgressão aumentou quando foi utilizado tanto pelo Estado Novo português, quanto pelos opositores do Regime; tanto por cantoras que reproduziam o folclore nacional politicamente neutro e a objetificação feminina para adentrarem no mercado da world music, quanto por fadistas que divulgavam suas paisagens ativistas e sexualidades dissidentes de forma independente. Enquanto tradição oral, o fado mantinha duros, mas impessoais, ritos de passagem, que desconsideravam, por exemplo, a sexualidade e a nacionalidade de suas praticantes.

Tamanha complexidade transgredia a palavra “queer”, proposta pelo Fado Bicha, para o entendimento do fado. Nascia (ou se revelava) o conceito de “bizarro”, que utilizo para agregar aos marcadores queer de gênero identitário e sexualidade aspectos musicais, raciais, sócio-econômicos e de nacionalidade, de forma interseccional. Porém, este bizarrismo continua a coexistir com um tradicionalismo que nega elementos subversivos, tal como aconteceu com o Fado Bicha. A partir desse conceito de bizarro e desta contradição ao coração do fado, foi-se possível demonstrar não só os motivos pelos quais o FB fora invalidado, que diziam respeito à falta de adequação aos ritos de passagem fadistas e aos modelos mercadológicos; como também esclarecer a razão por sua incessante busca por reconhecimento neste gênero musical, qual seja, o cumprimento fatalista do seu destino drag, do seu fado, que impelia-o gritar aos quatro ventos ser o maior de todos os fracassados.

Palavras-chave: Bizarrismo; fado-batido; música-queer; fado-LGBT.