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SEMINÁRIO PERMANENTE EM ESTUDOS HISTÓRICOS E CULTURAIS EM MÚSICA
 
O Seminário Permanente do grupo de investigação Estudos Históricos e Culturais em Música do INET-md pretende ser um fórum onde todos os seus membros (integrados e colaboradores), bem como outros investigadores e investigadoras do meio académico, cultural e artístico, possam apresentar o seu trabalho e discutir projectos e investigações em curso.
 
 
11-12-2023 | 18:00 | Colégio Almada Negreiros, NOVA FCSH | Sala 209 - Piso 2
 
Acesso livre, presencial e online:
 
Sala Zoom
ID da reunião: 933 8401 0250
Senha: 361528
 
 
 
PRÁTICAS MUSICAIS EM LISBOA NO SÉCULO XX: ITINERÁRIOS, GÉNEROS E ESPAÇOS
 
 
 
Cartografias das práticas musicais em Lisboa no Estado Novo
 
Ana Margarida Cardoso | INET-md
 
 
O Quinteto Nacional de Sopro foi um grupo pertencente à Emissora Nacional e com atividade entre os anos de 1950 e 1986, constituído pelos flautista Luíz Boulton (1908-1998), oboísta José dos Santos Pinto (1915-2014), clarinetista Carlos Saraiva (1910-2001), o fagotista Ângelo Pestana (1919-2002) e o trompista Adácio Pestana (1925-2004). Estes cinco instrumentistas de sopro foram representativos deste contexto pois gravitaram em torno de grande parte das instituições que regularam a atividade musical durante o Estado Novo em Lisboa, como o Sindicato Nacional dos Músicos, o Conservatório Nacional, a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, a Banda da Guarda Nacional Republicana ou mesmo as diversas salas de concertos onde tomaram lugar em concertos de câmara. O estudo dos seus itinerários mostrou-nos não apenas uma cartografia das práticas musicais em Lisboa, como também as hierarquias existentes entre géneros, espaços urbanos e contextos performativos. Para além disso, foi ainda possível perceber o modo como se revestia o quotidiano de um músico, partindo da análise das suas agendas pessoais. Assim, o objetivo desta comunicação foi entender o modo como estas cartografias refletiram uma hierarquia dos espaços e dos géneros, durante o Estado Novo. Para tal, suportei-me nos estudos existentes relacionados com cartografias urbanas (Cohen 2012, Bell & Johansson 2010, Thomas 2010) e na bibliografia relativa à categorização (Shepherd 2003, Gelbart 2007), nomeadamente na que estudou este processo no contexto da Política Cultural do Estado Novo (Pestana 2012, Castelo-Branco 2008, Melo 2001, Nery 2010). Para além disso, recorri à pesquisa arquivística e a entrevistas feitas a familiares e colegas dos músicos.
 
Palavras-chave: Cartografias; Música; Categorização; Política Cultural do Estado Novo; Quotidianos.
 
 
Ana Margarida Cardoso | Doutorada em Música - variante Etnomusicologia,  Ana Margarida Cardoso iniciou os seus estudos musicais nas Bandas de Seia e Gouveia. Depois de ingressar no Conservatório de Música de Seia, decidiu optar pelo ensino profissional, tendo concluído o curso de Instrumentista de Sopro e Percussão, na Escola Profissional da Serra da Estrela (EPSE), com aquele que viria a ser o livro "O Oboísta e a Palheta Dupla". Seguiu-se a licenciatura em Ciências Musicais na FCSH, Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH) e o Mestrado em Ensino de História da Música, na Universidade de Aveiro (UA). Lecionou na EPSE (Seia), no Conservatório Regional de Coimbra, no Colégio de São Teotónio (Coimbra) e atualmente na Escola de Artes do Alentejo Litoral. Pertenceu às equipas de investigação dos projectos I&D “A nossa música, o nosso mundo: bandas filarmónicas, associações musicais e comunidades locais (1880-2018)” (PTDC/CPC-MMU/5720/2014) e “Ser músico em Portugal: a condição sócio-profissional dos músicos em Lisboa (1750-1985)” (PTDC/ART-PER/32624/2017), ambos financiados pela FCT. Organizou vários eventos académicos, como por exemplo o Post-ip - Post-in-progress (2017-2022) e não-académicos, de que é exemplo o Festival de Piano da Serra da Estrela, cuja direção artística integra desde a primeia edição (2019).Com vários anos de experiência associativa, é Vice-Presidente da Associação Patrimónios da Estrela e Presidente da Assembleia-Geral da Associação Nós é Mais Bichos.
 
 
 
 
 
"Uma indústria precisa de tudo e de todos". Vasco Morgado: dinamizador de uma "infraestrutura artística" em Lisboa (1951-1978)
 
Gonçalo Antunes de Oliveira | INET-md
 
 
Esta comunicação aborda um dos mais prolíficos empresários da indústria do espectáculo em Portugal no terceiro quartel do século XX, Vasco Morgado. Numa entrevista que concedeu à revista Vida Mundial, este empresário afirmava que o seu "nome é uma espécie de marca, como será, no cinema, a Metro ou a Fox". Com efeito, a análise biográfica de Vasco Morgado insta a um escopo de observação que combina várias lentes indissociáveis: i. Indivíduo; ii. Empresa; iii. Teatro Monumental; iv. Laura Alves. Esta composição apenas se assume enquanto um todo perante a inclusão de factores conjunturais (vazio empresarial e construção do Teatro Monumental no final da década de 1940) e de factores estruturais (pós-II Guerra Mundial e a vigência do Estado Novo até 1974).  O Cine-Teatro Monumental deverá, neste contexto ser encarado numa visão tripartida: i. símbolo de poder estadonovista; ii. infraestrutura inovadora (dimensão e características tecnológicas); iii. referência geográfica que assinalava o recentramento de Lisboa no contexto de uma expansão do Rio Tejo para zonas consideradas "fora de portas". Proponho-me, portanto, a apresentar Vasco Morgado enquanto agente de modernização de Lisboa, dinamizador de uma "infraestrutura artística" (Larkin 2013) que operava em rede na malha urbana lisboeta, a partir da qual um "mundo artístico" (Becker 1982) popular/ligeiro foi desenvolvido (produção) e sustentado (consumo). Esta reflexão tem como base o trabalho que tenho vindo a desenvolver na minha tese de doutoramento, designadamente entrevistas, pesquisa arquivística e bibliográfica, de que também resultou uma base de dados com mais de 12.000 registos a ser apresentada numa fase posterior à defesa.
 
Palavras-chave: Infraestrutura; Teatro Monumental; Vasco Morgado; Teatro Ligeiro; Indústria.
 

 
 
Gonçalo Antunes de Oliveira | Investigador no INET-md desde 2004, iniciou a sua formação académica na Universidade Católica Portuguesa em Economia, tendo posteriormente optado por uma mudança de curso superior, ingressando em Sociologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas no ano 2000. Especializando-se em Sociologia da Música, concluíu a sua licenciatura em 2003 com uma dissertação intitulada "Máquina do Tempo - Músicas ouvidas, fases vividas". Completou a Pós-Graduação em Sociologia do Conhecimento em 2004, altura em que já desenvolvia trabalho de investigação para a Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX enquanto redactor, na qual integrava também a Equipa Editorial. Em 2005 integrou a primeira equipa da Candidatura do Fado a Património da Humanidade (projecto Fado no Século XX: uma Abordagem Multidisciplinar ao Património Cultural Intangível Português), no âmbito da qual construíu a Base de dados de fonogramas históricos (78 rpm) de fado e outros géneros de música popular. Foi neste contexto que descobriu o vasto campo de que constitui o Teatro de Revista em Portugal, tendo-o escolhido como tema de especialização no âmbito da sua Dissertação de Doutoramento. Colaborou em projectos como A Indústria Fonográfica em Portugal no Século XXJazz em Portugal: Os legados de Luís Villas-Boas e do Hot Clube de Portugal, e.o. Considerando a sua área de especialização, foi convidado pelo Museu Nacional do Teatro e da Dança para co-coordenar o projecto História do Teatro e do Espectáculo em Portugal, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Movido ainda pelo seu interesse pela cidade de Lisboa (contexto de todo o seu trabalho de investigação), desenvolveu substancial trabalho de investigação em torno da toponímia lisboeta.